29.11.06

Quase*



Hoje, amanheci triste. Triste, mais uma vez. Uma tristeza que, estranhamente, dá paz. A paz que só a consciência de que a nossa vida é a vida que nós mesmos construímos, para o bem ou para o mal. Não culpe ninguém por seus fracassos, por suas dores, por seus desencantos e até por suas vitórias. Tudo é conquista sua. No meu caso, trata-se de opção, acertada ou não, mas é a minha opção: a busca meio compulsiva, é verdade, por viver intensamente, seja lá o que for, sem mentiras ou meias-verdades e, principalmente, sem quase. Não quero ser quase feliz. Recuso a quase amar. Odeio quase odiar. Quero tudo, na íntegra. Sem meios-termos. A saudade, a transformo sempre, de nostalgia em faísca que me leva adiante para me entregar de novo, seja lá a que diabos de sonhos for. Quando a gente se sente sozinho, capta, com mais rapidez, os prenúncios de felicidade. E os deposita no coração, os prende na alma e segue adiante...
Assim, prefiro ir deixando, pelo meio do caminho de flores e pedras, os quase amigos, os quase inimigos, os quase amores. E continuo sem deixar que o medo e a saudade tornem-se impeditivos para novas tentativas ou novas buscas. Às vezes, é verdade, sorrateiramente, vem o desejo intenso de olhar a "vida pelo retrovisor", como alguém me disse um dia. Mas só de vez em quando. O resto do tempo, dedico-me a olhar para a frente, a sonhar, a caminhar. É a busca pela sonhada felicidade. São momentos intensos e, às vezes, fugidios, mas que afastam a sensação de vida-velório, e faz da vida uma estranha festa. Uma festa a que se vai, sabendo que há fim. É assim a sensação de felicidade que sempre vivo. Verdade que, um dia, em meio ao meu primeiro e louco amor, pensei que tudo era para sempre. Tudo, imutável. Tudo, eterno, Tudo, para sempre. Só ali. Nunca mais. Cedo, muito cedo, aprendi que nada é para sempre. Em oposição, tudo pode ser de verdade.
E em tudo isto, uma certeza – uma única certeza. A de que prefiro o sim ou o não ao quase ou ao talvez. É exatamente o talvez que me entristece. A certeza de que, desta vez, quase amei, quase fui amada. Afinal o quase é uma pedra no meio do caminho. Não precisa
ser a pedra de Carlos Drummond. Todos nós temos as nossas próprias pedras. Quem quase foi feliz, não o foi. Quem quase ganhou nas loterias repletas, a cada final de semana, prossegue jogando. Quem quase finalizou um livro sonhado, não o fez. Quem quase pôs para fora as mágoas contidas diante do amigo, quase amigo, continua engasgado de pesar. Quem quase foi traído, continua acreditando na traição como fantasma sem cor.
Afinal, nada expressa tão bem a impossibilidade de compreender a vida como a sensação densa (mas não morna) de ser quase triste e, ao mesmo tempo, quase feliz. Novamente, mais uma opção: ou passamos a vida, tentando compreendê-la ao dissecá-la como os legistas o fazem diante de um corpo sem vida, ou a vivemos, sofregamente, usufruindo a magia da própria vida, distante de uma quase vida. De que serve uma vida outonal, em que o verde não é verde e as folhas não são secas, de fato? Tudo é odiosamente quase!


Reflitam


Beijos em Carol, Katy e Nanda

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito lindo Soninha.....
me identifiquei bastante....
amo vcs todas...